Na sua análise musical à canção, escreve o autor:
Água mole em pedra dura tem a seguinte forma: prelúdio-canção-interlúdio-canção.
A canção descreve a moleza da água através da sinuosidade de um desenho melódico bordado e do modo frígio; a dureza da pedra é pentatónica e ascendente, culminando num melisma de carácter heróico; o bater é repetitivo, usando só duas notas, sempre com articulação curta; o 'furar' final tem notas mais longas, solenes, acabando numa generosa 3ª picarda.
O prelúdio que inicia a peça, referente à água, cita de forma consequente as relações intervalares e rítmicas da passagem que na canção se refere ao texto 'Água mole', com preferência por sequências descendentes, tanto no início, ao passo de 3ª M, como na transposição deste motivo meio tom abaixo, a cada nova exposição, a partir do compasso 11, até chegar à altura da canção. A harmonização do prelúdio é muito sofisticada e maleável, como o meio líquido sugere.
O interlúdio, baseado no motivo que na canção é usado para o texto 'em pedra dura', é constituído por um processo de canon à 8ª com estreitamento da segunda entrada e encurtamento do eco, quando da exposição meio tom acima, com uma estrutura intervalar rígida, sempre paralela, culminando numa fermata em que se destaca o intervalo de trítono. Segue-se um trecho lento, fortissíssimo, explorando as fortes ressonâncias que os agregados politonais escolhidos causam no piano acústico, que termina num pianíssimo inesperado e misterioso, seguindo-se um desenho descendente de intervalos alternados, sempre com o pedal direito abaixado, numa tremenda bagunça intravulcânica, até chegar, limpando tudo, à dominante (com 5ª e 11ª aumentadas) que prepara o retorno à canção.
Água mole em pedra dura
tanto bate até que fura