A melodia está na tonalidade de Dó menor (com muitas notas alteradas) e tem um âmbito de 9ª Maior [Si b 2 – Dó 4]. Melodicamente, explora movimentos melódicos por intervalos de 2ª menor e cromatismos, recorrendo também a escalas com novas organizações de intervalos.
A 2ª frase (a única que entra “a tempo”) e a última frase, começam com notas repetidas e com crescendos que causam uma tensão relacionada com a descrição das aberrações descritas (“Punha os copos no fogão” ou “Varria a casa com garfos”).
A melodia está escrita no compasso 4/4, quaternário de tempos de divisão binária.
O ritmo é silábico e quase exclusivamente escrito em semínimas e colcheias, destacando-se as células rítmicas [semínima com ponto de aumentação + colcheia], a mais recorrente, que aparece várias vezes nos terceiro e quarto tempos dos compassos, e ainda os contratempos [pausa de colcheia + colcheia] e a tercina de semínimas. Com excepção do antecedente da 2ª frase, todos os antecedentes e consequentes têm entradas em anacruse.
O andamento é rápido (Allegro), “Allegro misterioso e bizarro”, segundo o compositor.
A canção tem quatro frases melódicas, todas diferentes (ABCD) e todas constituídas por 4 frases curtas ou motivos, respeitando a quadratura do poema. De quatro em quatro versos, todos separados por pausas de um tempo ou tempo e meio, há momentos de respiração (pausas de maior duração) que concluem a frase anterior e convidam à entrada no antecedente da nova frase.
O arranjo segue o plano formal seguinte: Introd. A Interl. B Interl. C Interl. D Coda.
As frases têm maior duração (c. 8 compassos) do que os Interlúdios ou a Coda (6 a 8 tempos). Harmonicamente, o arranjo tem uma linguagem jazzística, embora ritmicamente seja bastante regular e simples.
A instrumentação inclui instrumentos da família das madeiras (flauta transversal, oboé, clarinete, clarinete baixo, fagote), piano, sendo a melodia cantada por coro infantil.
Numa casa muito estranha
toda feita de chocolate
vivia uma bruxa castanha
que adorava o disparate.
Punha os copos no fogão
as panelas na banheira
os sapatos nas gavetas
as meias na frigideira;
escrevia com fios de água
dormia sempre de pé
cozinhava numa cama
e comia no bidé.
Varria a casa com garfos
limpava o pó com farinha
deitava cem gatos na sala
e dormia na cozinha.